... 6 meses a 20 de Agosto, um dia depois do Piriri mais velho fazer 9 anos. Tem dias que me sinto algo mal por ter tornado este blog o blog da memória da Júlia mas o meu filho está sempre aqui ao pé de mim... a minha filha não. Hoje apetece-me escrever sobre isto da morte de alguém, da morte de um filho, da minha filha.
Quando
a minha filha morreu só participei o falecimento dela depois de lhe
fazer o funeral. No dia apenas os nossos pais, os nossos irmãos e 2 amigas muito próximas (que considero irmãs) souberam. A última coisa que eu queria era ver gente mas
especialmente ouvir gente e não me arrependo.
A maioria abre a boca para
tentar ajudar mas a maioria não sabe o que dizer ou fazer; ou melhor o
que não dizer e o que não fazer...
Na verdade, só
queremos é que nos deixem em paz, que o telefone não toque que não esteja ninguém a carregar nas campainhas, queremos que nos deixem em paz! Entristece perceber que há gente que não compreende a nossa necessidade de recolhimento, de estarmos fechados no nosso ninho, de não querer falar nem ver ninguém e então insistem e na falta de resposta nossa ficam incomodados como se nós tivessemos obrigação em dar qualquer resposta.
E é estranho perceber que quando uma
desgraça destas nos cai em cima, toda a gente acha que estamos afastados
da nossa capacidade de discernimento... de repente é como se estivessemos "maluquinhos" já que parece que não sabemos pensar, que não
sabemos fazer nada, que não podemos estar sozinhos, etc etc etc... que devíamos fazer isto ou aquilo. Que porra! Não
basta ter que se lidar com a morte de um filho ainda temos que lidar com
tantas outras coisas que são tão escusadas e ouvir tantas barbaridades que nem lembra ao diabo!
Se choramos há quem diga que não
devíamos chorar e consideram logo que estamos em depressão profunda e em
vias de nos suicidar, se por outro lado não choramos é porque estamos a
relativisar e estamos em negação e devíamos chorar...
Se fomos logo trabalhar
devíamos descansar, se nos fechamos em casa e descansamos acham que
"estamos a morrer" e que devíamos trabalhar porque o trabalho ajuda a esquecer (como se fosse possível esquecer a morte de um filho!)
E lá acabamos por não conseguirmos ser nós próprios e
sentimo-nos completamente "fora da bolha". E isto fez com que acabasse por me afastar de (quase) toda a gente e fazer por conhecer gente que
não sabia da morte da minha filha porque não aguentava mais... só o
facto de ver algumas pessoas me lembrava (e lembra ainda) a morte da minha filha. Havia
também outras que com a sua boa intenção e com a sua vontade de ajudar
ainda me faziam pior, ora porque relativisavam demais, ora porque dramatizavam demais.
A dor da perda de um filho é inimaginável, podem
ler-se milhentos textos, ver-se milhentos filmes mas ficarão sempre aquém do
que verdadeiramente se sente... e ainda bem que é assim, que só quem passa mesmo é
que sabe, porque esta dor é de loucos!.
O que tenho aprendido ao longo destes 6 meses é que a grande
grande grande maioria das pessoas não sabe como lidar com a morte e
muito menos com este tipo de morte e lidar com pessoas em luto faz-nos
ver de frente a nossa própria mortalidade e é lixado.
Mas sim... há
vida depois da morte de um filho, "life goes on" (que remédio) e o life goes on ainda se torna mais premente se houver outros filhos... mas a dor, a falta, a
saudade, a saudade de um futuro perdido com esse filho fica para sempre e vai para
além da aceitação da morte ou da fé de um reencontro no "Além" ou noutra
reencarnação...
E pronto... e é isto.